Claudia Leon, Nathalie Meilman e Claudia Lamberti contam o que fazem para que nada saia do tom nos chamados templos de consumo e de diversão da Barra
RIO — Há oito anos, a jornalista e produtora de feiras Claudia Leon foi convidada para assumir o cargo de gerente de marketing do VillageMall, na Barra. Junto com o convite, veio o aviso: “Shopping é como uma feira que nunca desmonta’’. Apesar do alerta, ela ficou no cargo cinco anos e, há três, acabou se tornando superintendente do shopping.
A exemplo dela, Nathalie Bergier Meilman, superintendente do Metropolitano; e Claudia Lamberti, CEO do Casashopping, ocupam cargos antes destinados a representantes do sexo masculino.
— Há reuniões que têm somente homens e eu de mulher. Acho até interessante estar nesse ambiente. Nunca me senti tolhida, intimidada ou fui tratada de maneira diferente por ser mulher — diz.
Nathalie Bergier Meilman, mãe de duas meninas, a engenheira vai completar um ano como superintendente do Shopping Metropolitano Foto: Roberto Moreyra
Para Claudia, o seu cargo é como o de uma maestrina. Ela tem que reger bem os 250 funcionários, contando os terceirizados da segurança e da limpeza, para que tudo funcione bem no shopping. Por isso, afirma, passa cerca de nove horaspor dia no chamado templo do consumo e, nos feriados e fins de semana, costuma ir até lá para que sua equipe saiba que está presente.
— Trabalho com o operacional, marketing, lojistas, a equipe. Passo por todas as áreas, mas não gosto de falar que faço nada sozinha, pois tudo é realizado pela equipe. É ela que faz de tudo para ajudar no sucesso de cada uma das operações — assinala, dividindo os louros com o seu time.
De acordo com ela, um de seus maiores desafios foi mostrar que o Village não é um shopping só para um público específico.
— Outra questão difícil foi fazer a transição do marketing para o cargo de superintendente. Como eu vinha de feira, e precisava criar experiências, comecei a fazer essa transição aqui — lembra.
Claudia Leon, a Superintendente do Village Mall Foto: Roberto Moreyra
A superintendente conta que um dos maiores prazeres do cargo é ver sua equipe vibrando com as entregas dos trabalhos. E de sua gestão, ela destaca a criação de um ponto de vacinação contra a Covid-19 e a construção de uma sala de convivência para os funcionários, onde eles podem ler, assistir à televisão, jogar totó e até dormir. Segundo ela, o maior desafio hoje é conciliar a vida profissional e a pessoal.
— Busco sempre o equilíbrio. Sou família, tenho três filhos e gerir o meu tempo é o maior desafio. Gosto de fazer exercício, de ter um momento para mim e meus filhos. Mas não gosto de dever nada em casa nem no trabalho. Gosto de entregar e isso requer disciplina — assinala.
‘Já sofri preconceito, mas sou elogiada pelo conhecimento’, diz Claudia Lamberti
No CasaShopping, Claudia Lamberti começou a trabalhar há 35 anos. Lá, entrou para cobrir as férias de Edson Filho, com quem está casada há 31 anos e com quem teve uma filha. Já aposentada e com 58 anos, Claudia se tornou CEO do shopping na Barra em maio do ano passado.
— Conheço toda a história do CasaShopping. Apesar de ser uma empresa familiar, fui galgando cada posto, ganhei a confiança dos lojistas e me tornei CEO. São três herdeiros e eu sou o quarto pilar, que os ajuda. Acho que sou um exemplo para muitos funcionários: consegui vencer! Uma mulher negra em um cargo de chefia. Passei mais da metade da minha vida aqui e não me imagino trabalhando em outro lugar — diz, emocionada, a ex-analista contábil e ex-diretora financeira.
Time. Claudia Lamberti comanda 197 funcionários em shopping na Barra Foto: Divulgação/Bruno Masello
Hoje, além da gestão do shopping, ela “assessora a governança familiar’’. Comanda 197 funcionários para que o mall, com 170 lojas e 208 salas corporativas, funcione corretamente. Segundo ela, é normal participar de reuniões nas quais ela é a única mulher e a única negra.
— Já sofri preconceito por ser mulher e por ser negra, mas, depois, acabam me elogiando pela firmeza e pelo conhecimento do negócio — diz, acrescentando que se orgulha de ter participado das obras de expansão do shopping, em 2014, e pela equipe de limpeza não ser mais terceirizada. — O pessoal da limpeza quando é terceirizado não tem benefício e plano de saúde. Resolvi contratá-los e fui muito criticada, mas deu supercerto e todos estão felizes hoje em dia.
Acostumada também a “fazer mil coisas ao mesmo tempo’’, Nathalie Bergier Meilman, superintendente do Shopping Metropolitano, diz que seu maior desafio é conciliar a vida profissional com a pessoal. Nathalie tem duas filhas, uma de 4 anos e outra de 2.
— Busco equilibrar todos os pratos. Aprendi a delegar e a dizer não. Ser mãe sempre vai ser a minha prioridade, mas o meu lado de executiva e líder também é muito forte. Sou feliz e realizada — lembra, acrescentando que tem 200 pessoas em seu time e ainda é síndica de seu prédio.
Formada em engenharia, aos 26 anos ela se tornou coordenadora de operações no Fashion Mall e, logo, gerente nesta área. Ao mesmo tempo, foi convidada para ser gerente financeira do Bossa Nova Mall e manteve os dois empregos. Acabou sendo promovida a gerente-geral do centro comercial no Aeroporto Santos Dumont. No entanto, sempre sonhou ser superintendente e, em abril de 2021, recebeu o convite para ocupar o cargo no Metropolitano:
— Moro na Zona Sul, o Metropolitano era mais longe; e minha filha, pequena. Além disso, o shopping era muito maior do que estava acostumada. Mas tenho a sorte de contar com equipe muito boa e rede de apoio em casa.
Com informações de O Globo
Fotos: Roberto Moreyra