A iniciativa partiu de um morador do Guará, que plantou árvores frutíferas e criou uma horta comunitária. Mas o esforço de nove meses quase foi destruído. O jardineiro recebeu uma notificação para retirar as benfeitorias, pois não tinha autorização da administração regional
Jardineiro e estudante de biologia, Luciano decidiu usar os conhecimentos para plantar diversas espécies em frente à sua casa: apoio da vizinhança |
Há quase um ano, a realidade de quem mora no conjunto F da QI 10 do Guará se transformou. Antes, a área livre do local abrigava um matagal, umas poucas árvores e um depósito de lixo. Porém, a iniciativa de um morador da região tornou o espaço mais verde e agradável. Por lá, foram plantadas árvores, que dão acerola, limão, carambola, entre outros frutos. O jardineiro Luciano da Silva Torres, 27 anos, responsável pela iniciativa, porém, acabou surpreendido com uma notificação da Administração Regional do Guará. Como não havia comunicado a Administração Regional sobre as benfeitorias, teria de tirar a plantação em um prazo de 36 horas, sob pena de pagar multa. A justificativa do Governo do Distrito Federal, que até vê ações como as de Luciano com bons olhos, é que antes de qualquer intervenção é necessária a autorização das autoridades locais.
Aluno do terceiro período de biologia, Luciano aproveitou os conhecimentos adquiridos e a experiência da profissão para melhorar a cara da região. As primeiras mudas foram plantadas em fevereiro deste ano. Primeiro, começou pelo campo ocupado por entulhos. Recentemente, fez uma horta comunitária, bem em frente à casa dele. Mas ao receber a notificação, na semana passada, quase tudo foi destruído. “O papel pedia para retirar as plantas, e, caso não fosse feito, eu poderia ser multado”, detalhou. O documento teria sido entregue por um servidor, porém o órgão não efetivou o documento, uma vez que não estava assinado pelo administrador local.
No espaço em que, há 10 anos, abrigou um campo de futebol, hoje existem várias árvores, inclusive plantas medicinais, cultivadas pelo jardineiro. “De certa maneira, quis tornar aqui um local melhor e também passar para as pessoas que não devemos deixar tudo nas mãos dos governantes, que podemos fazer algo para o nosso bem-estar”, detalhou. No cuidado diário da área, Luciano, além de plantar as espécies, pulveriza e rega as plantas. “O verde aqui antes era perdido. Faço isso porque gosto. Inclusive, alguns vizinhos têm ajudado bastante. Agora, estou em busca de mais apoio para manter o local. São vários gastos com produtos.”
Procedimento
O Governo do Distrito Federal pede à população que informe à Administração Regional sempre que houver a intenção de plantar árvores e cultivar hortas. De acordo com o administrador do Guará, André Brandão, o processo é importante para que as intervenções não causem prejuízos futuros. “Toda intervenção em área pública depende da administração local. Isso porque ela pode levar à perfuração de alguma área que tem um cano, duto ou passagem”, explicou. Sobre o plantio, Brandão ressaltou que é necessário também avaliar as espécies, uma vez que elas correm o risco de não ser compatíveis com a região. “Se eu quero plantar uma mangueira e logo ali acima tem uma linha de energia, por exemplo, no futuro, isso pode causar um problema. Por isso, é necessária a análise anterior.”
Com a comunicação, técnicos da Gerência de Obras do Guará vão até o local para verificar se o plantio de Luciano não causará danos à comunidade. “Essas iniciativas são fantásticas, inclusive temos incentivado, uma vez que é importante a população tomar posse daquilo que é público, ter um sentimento de pertencimento. Isso torna a cidade mais agradável. Não vemos problema em qualquer ajuda para a administração pública, porém é preciso sempre ter a autorização”, completou André Brandão.
A Novacap, inclusive, realiza doações de mudas de árvores e flores ornamentais, porém elas somente são repassadas mediante a vistoria no local a ser plantadas. “É doado também conforme a disponibilidade em estoque, uma vez que o objetivo principal da produção é o atendimento das demandas na execução dos Programas de Arborização, do Programa de Compensação Ambiental e da implantação dos projetos de paisagismo, além da manutenção dos jardins públicos sob nossa responsabilidade”, informou o órgão por meio de nota. “Os repasses dessas mudas, quando realizados, ocorrem ao longo da época de chuvas no Distrito Federal, período que compreende os meses de dezembro, janeiro e fevereiro.”
De certa maneira, quis tornar aqui um local melhor e também passar para as pessoas que não devemos deixar tudo nas mãos dos governantes, que podemos fazer algo para o nosso bem-estar”
Luciano da Silva Torres, estudante de biologia
Fonte: CB Cidades